Diabetes tipo 2: o que mudou no rastreio e no diagnóstico
- Dra. Daniela Russo
- 25 de abr.
- 3 min de leitura

O diabetes tipo 2 é uma das doenças crônicas mais prevalentes no Brasil e no mundo. E um dos grandes desafios é garantir um diagnóstico precoce, pois trata-se de uma doença que começa de forma silenciosa e pode causar problemas sérios de saúde.
E para isso, precisamos investir em cuidados de rastreamento mais eficazes. Em 2024, a Sociedade Brasileira de Diabetes (SBD) publicou uma nova diretriz com atualizações importantes sobre o rastreio e o diagnóstico do diabetes tipo 2.
O objetivo é evitar a manifestação e evolução da doença e complicações graves, como doenças cardiovasculares, problemas renais, lesões oculares e amputações.
Vou explicar agora o que mudou, quais são os novos critérios para investigação do diabetes tipo 2 e quem deve ser avaliado com mais atenção ;)
Por que o rastreamento precoce é tão importante?
A maioria dos pacientes com diabetes tipo 2 não apresenta sintomas nas fases iniciais da doença. Por isso, muitas vezes o diagnóstico é feito de forma tardia, quando as complicações já estão presentes ou a remissão da doença é mais difícil.
Um rastreamento eficaz permite identificar precocemente a doença e iniciar o tratamento o quanto antes, melhorando o controle glicêmico e reduzindo riscos.
O que mudou no rastreio do diabetes tipo 2?
Segundo a nova diretriz da SBD (2024), o rastreio do diabetes tipo 2 passou a ser mais amplo e precoce. As principais mudanças incluem:
1. Início mais precoce do rastreamento
A recomendação anterior indicava o rastreio a partir dos 45 anos. Agora, o rastreio deve começar a partir dos 35 anos, mesmo para pessoas assintomáticas.
2. Rastreio independente da idade para grupos de risco
Pessoas com menos de 35 anos com sobrepeso ou obesidade, e mais um dos fatores de risco abaixo:
História familiar de DM2 em parente de primeiro grau;
História de doença cardiovascular;
Hipertensão arterial;
HDL abaixo de 35 mg/dl;
Triglicerídeos acima de 250 mg/dl;
Síndrome de ovários policísticos (SOP);
Acantose nigricans;
Sedentarismo;
Pré-diabetes em exame prévio;
Diabetes gestacional prévio ou recém-nato grande para idade gestacional;
FINDRISC alto ou muito alto.
3. Frequência do rastreio
A frequência do rastreamento leva em conta a situação clínica do paciente. Por exemplo:
Rastreio semestral: pessoas assintomáticas e com apenas um critério de risco;
Rastreio anual: pré-diabéticos, pessoas com exames normais e mais de 3 fatores de risco, pessoas com exames normais e FINDRISC alto/muito alto;
Rastreio trianual: pessoas com exames normais e menos de 3 fatores de risco, além de pessoas com exames normais e FINDRISC baixo/moderado.
O que mudou no diagnóstico do diabetes tipo 2?
A nova diretriz da SBD também reforça os critérios diagnósticos já conhecidos, mas destaca a importância da confirmação diagnóstica com mais de um teste quando não há sintomas evidentes, da avaliação do histórico clínico e fatores de risco do paciente. Ou seja, se o paciente estiver assintomático, é necessário confirmar o resultado em um segundo exame, preferencialmente com a mesma metodologia.
Os critérios laboratoriais para diagnóstico de diabetes tipo 2 incluem:
Glicemia de jejum ≥ 126 mg/dL;
Hemoglobina glicada (HbA1c) ≥ 6,5%;
Glicemia ≥ 200 mg/dL duas horas após TOTG (teste oral de tolerância à glicose);
Glicemia casual ≥ 200 mg/dL na presença de sintomas clássicos;
Novo critério: Glicemia ≥ 209 mg/dL uma hora após ingestão de glicose no TOTG (TTGO-1h).
Atenção redobrada ao diagnóstico de pré-diabetes

O pré-diabetes é a fase que antecede o diabetes tipo 2 e a diretriz também enfatiza a importância de identificá-lo. Isso porque, nessa fase, as alterações glicêmicas já estão presentes, mas ainda podem ser revertidas com mudanças no estilo de vida.
Critérios para diagnóstico de pré-diabetes:
Glicemia de jejum entre 100 e 125 mg/dL;
Hemoglobina glicada (HbA1c) entre 5,7% e 6,4%;
Glicemia de 140 a 199 mg/dL duas horas após o TOTG.
Em adultos com pré-diabetes, definido previamente por glicemia de jejum e HbA1c, é recomendado a realização adicional do TTGO-1h, para diagnóstico de casos de diabetes tipo 2 não detectados (se maior ou igual a 209 mg/dl) ou para avaliar risco futuro da doença (se maior ou igual a 155 mg/dl e menor do que 209 mg/dl).
Conclusão
Com as novas diretrizes da SBD, o rastreio e o diagnóstico do diabetes tipo 2 tornam-se mais precoces, abrangentes e individualizados. Identificar pessoas em risco e intervir precocemente pode evitar complicações graves e melhorar a qualidade de vida.
Se você faz parte de algum grupo de risco ou tem mais de 35 anos, converse com seu endocrinologista sobre a necessidade de avaliação. O diagnóstico precoce faz toda a diferença ;)
Conte comigo, se precisar!
Um abraço,
Dra. Daniela Russo
CRMMG 41385 RQE 24679 RQE 24.678
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